“Boyhood” conseguiu realizar um feito raro: em algumas cenas ao longo das quase 3 horas de filme, ele me fez chorar. Isso, porém, não foi resultado de grandes tragédias, mortes ou qualquer evento dessa natureza no enredo – mesmo porque essa não é a proposta da obra.
Na realidade, sua capacidade de sensibilização encontra-se na mensagem exposta de maneira sutil: o tempo passa depressa. E, apesar desse pensamento estar presente em inúmeras produções, “Boyhood” trouxe algo de inovador: a filmagem realizada, no decorrer de 12 anos, com os mesmo atores. Desse modo, as mudanças físicas dos personagens nos são apresentadas de modo pouco perceptível, até por fim nos darmos conta de que o garotinho do começo do filme é o mesmo rapaz encontrado no desfecho.
Talvez o desenrolar da história torne-se um tanto monótono para alguns: afinal, como já foi dito, as três horas da produção não compreendem enormes reviravoltas. Contudo, para mim, esse foi um dos motivos pelos quais a experiência de conhecê-la veio a ser ainda mais especial. Isso porque, se por um lado os eventos parecem ocorrer lentamente, por outro, ao final do filme, somos capazes de perceber o tanto que se passou nesse período.
É uma ideia quase ilógica e, ao mesmo, muito presente em nossa vida. Quem nunca teve a impressão de que o tempo está transcorrendo bem devagar, a “passos de tartaruga”? E, no entanto, quando relembramos o passado, percebemos o quanto tudo passou depressa…
Em resumo, eu simplesmente amei o filme e o indico a qualquer pessoa! Por fim, gostaria de concluir o texto trazendo um poema de Mário Quintana – que, mesmo breve, causa-nos impacto e tem estreita relação com o tema.
Relógio
“O mais feroz dos animais domésticos
é o relógio de parede:
conheço um que já devorou
três gerações da minha família.”