Janeiro foi mês de férias e, consequentemente, acabei devorando um livro atrás do outro. Por isso, de antemão, peço desculpas pelo post longo, mas fico feliz por perceber que todas essas leituras foram excelentes!

“Persuasão”, de Jane Austen
Há algum tempo não lia nada da Jane Austen e, como tinha um exemplar de “Persuasão” em Inglês, decidi reler a obra no idioma original. Pode-se dizer que a narrativa é permeada por um tom melancólico, não usual na escrita da autora. Após retornar à história, percebi também como o enredo é pesado, carregado por sentimentos como rancor, culpa e arrependimento. Ao mesmo tempo, somos levados a encarar as mazelas da pressão da sociedade sobre os indivíduos, um tema que é ainda extremamente atual. Então, para aqueles que acreditam que a bibliografia de Jane Austen resume-se a romances “água com açúcar”, vale a pena conferir essa obra, atentando para o desfecho não tão feliz escolhido pela autora.
“Úrsula”, de Maria Firmina dos Reis
Em seguida, optei por conhecer “Úrsula”, considerado o primeiro romance abolicionista do Brasil. Essa leitura acabou por ser enriquecedora – não tanto pela história, pois, superficialmente, seu enredo principal é recheado de paixões à primeira vista e perseguições; mas sim pelo fato de que, apesar da inegável importância que a obra tem para a literatura brasileira, é ainda pouco conhecida pela população em geral. Por isso, decidi listar alguns motivos para ler a história, os quais podem ser encontrados aqui. Será que consigo convencer alguém a dar uma chance à obra? 🙂
“Quincas Borba”, de Machado de Assis
Depois, dei continuidade à minha incursão pela literatura machadiana, com o romance “Quincas Borba”. Apesar de ser o menos conhecido da trilogia realista, posso afirmar que é um livro simplesmente incrível! A história tem início quando, após a morte de Quincas Borba, Romão ascende socialmente a partir da herança do amigo. Contudo, se por um lado o protagonista acompanhara o falecido até os últimos dias de vida deste, por outro, não havia sido capaz de compreender a filosofia desenvolvida por Quincas Borba – o chamado “Humanitismo”. Assim, será somente no decorrer do enredo que Romão irá vivenciar, e enfim compreender, o sentido da frase proferida pelo colega: “Ao vencedor, as batatas!”. Como é característico da escrita do autor, as críticas à sociedade mostram-se latentes nessa obra. Ademais, o próprio título leva o leitor a uma reflexão: por que “Quincas Borba”, se o protagonista é, na verdade, Romão? Para descobrir a resposta, basta ler o livro! 😉
“Vulgo Grace”, de Margaret Atwood
Sim, finalmente conheci a escrita de Margaret Atwood! Desde o início, tinha altas expectativas em relação às obras da autora – tanto em virtude dos comentários positivos acerca desta, quanto por saber que a canadense evidenciava o feminismo em suas histórias. Felizmente, não me desapontei nem um pouco com “Vulgo Grace”. Em primeiro lugar, o livro apresenta uma narrativa instigante. Mesmo sabendo que o propósito dele não é estabelecer a culpa ou inocência da protagonista, é impossível não ansiar por descobrir um pouco mais dos confusos acontecimentos que antecederam os assassinatos de Nancy Montgomery e do Sr. Kinnear, ainda que as palavras de Grace não sejam necessariamente confiáveis.
Daí, chegamos ao segundo ponto e, possivelmente, a grande faceta da autora: nós, leitores, somos levados a julgar a personagem, tentar compreender os fatos, e admitir ou não a culpa dela. Será que isso não representaria o modo como nossa sociedade está sempre disposta a julgar o outro, ainda que não possua total conhecimento do contexto em que este se insere? Ao mesmo tempo, Atwood nos mostra como as mulheres, ainda hoje, costumam ser mais duramente julgadas que os homens. Em resumo, “Vulgo Grace” é uma história que não só é capaz de entreter, como também apresenta de modo sutil diversos temas extremamente atuais. Por isso tudo, não vejo a hora de conhecer o restante da bibliografia da autora!

“O Fantasma da Ópera”, de Gaston Leraux
Embora essa história seja bastante difundida em diversas mídias, especialmente em virtude de sua adaptação para o teatro, o único conhecimento que detinha acerca dela era o título. Felizmente, pude entrar em contato com o enredo a partir do filme de 2004 – que, mesmo não sendo excepcional, fez-me sentir apaixonada pela ambientação, pela narrativa e, é claro, pelas músicas. Como boa leitora que sou, decidi recorrer à obra original, na qual pude encontrar o mesmo clima de tragédia, grandiosidade e, sobretudo, de amor doentio, assim como em “O Morro dos Ventos Uivantes”. Meu próximo passo há de ser, acredito, assistir ao musical, mas acho que ainda terei de esperar para isso ocorrer. De qualquer modo, fico feliz em ver ocasionalmente alguns vídeos de performances famosas, como este aqui. 🙂
“Sempre Vivemos no Castelo”, de Shirley Jackson
Assim como muitos leitores, até recentemente eu não conhecia Shirley Jackson, cuja bibliografia, apesar da autora haver sido uma das mais renomadas do gênero de suspense e terror, costumava ser escassa aqui no Brasil. Assim, fiquei muito feliz de poder entrar em contato com uma de suas obras mais aclamadas, protagonizada por duas irmãs consideradas grandes anti-heroínas da literatura. Desde as primeiras páginas, é possível notar que todo o universo da história – as personagens, a ambientação e o humor único que permeia a narrativa – é um tanto peculiar. Além disso, é quase impossível não sentir um certo fascínio por Constance e Mary Katherine, que, assim como o restante do livro, têm personalidades únicas. Dito isso, não há dúvidas de que recomendo a obra, porém é importante que o leitor esteja preparado para se deparar com uma espécie de estranheza, como já mencionado.
“A Amiga Genial”, de Elena Ferrante
Assim como Margaret Atwood, Elena Ferrante é um nome que tem sido muito comentado no mundo da literatura, também com ênfase na representatividade feminina presente em suas histórias. Como adoro os chamados romances de formação, decidi enveredar pela Tetralogia Napolitana, cujo título inicial nos apresenta a infância e a adolescência de Lila e Lenu – que, apesar de crescerem cercadas pela violência e pela submissão feminina, buscam traçar o próprio caminho. No decorrer da leitura, fiquei abismada pela maneira com que a autora, ao tratar de temas já tão abordados e de modo relativamente simples, conseguiu cativar-me por completo. A história contada por Ferrante é, sobretudo, honesta, e as personagens são tão reais que poderiam muito bem ser alguém que conhecemos. Torcemos por elas, lamentamos seus erros, sentimos raiva com algumas de seus atitudes – até percebermos que são humanas e, afinal, têm falhas como todo mundo. Por fim, são figuras que nos geram empatia, sendo quase impossível não se identificar, ao menos em parte, com alguma das situações presentes na narrativa.
“Dois Irmãos”, de Milton Hatoum
Há algum tempo, tenho percebido que pouco conheço do cenário literário atual em nosso país. Não tenho dúvidas de que a leitura dos clássicos é uma experiência enriquecedora, porém sinto que deveria prestigiar mais nossos autores ainda vivos. Tendo isso em mente, decidi começar pela obra “Dois Irmãos”, de Milton Hatoum – um escritor amazonense muito prestigiado e vencedor de diversos prêmios. Inicialmente, devo dizer que a história não me cativou por completo; achei a trama interessante, mas não sentia empatia pelos personagens. Contudo, ao longo da narrativa, meus sentimentos em relação ao livro foram mudando – de modo que, ao ler o último parágrafo, fiquei embasbacada com o talento do autor. Mal posso esperar para conhecer os demais livros dele, especialmente “Cinzas do Norte” e “Relato de um Certo Oriente”!
Escrevi esse texto no início de 2018; porém, logo em seguida, optei por abandonar o blog para me dedicar mais aos estudos. De todo modo, decidi postá-lo para registrar minhas experiências literárias, tão especiais ao longo de minha formação.
Então, já leram alguma das obras mencionadas? Se sim, contem nos comentários! 🙂